O tempo não para
Momentos Difíceis
Hoje, vou falar sobre coragem, aquela que de um modo geral não interpretamos como “coragem verdadeira”. Fomos treinados para interpretá-la como algo desbravador e destemido. O homem capaz de enfrentar guerras, a mulher que encara desafios…
Percebermos esse tipo de atitude como coragem. É mais fácil, estamos acostumados a isso, mas, ultimamente, tenho me encantado por pessoas que são capazes de nos mostrar outra forma de coragem, muito mais frágil, porém poderosa. Vou citar dois exemplos…
Primeiro, a Marcia Cabrita, comediante talentosa e mulher incrível, que transformou sua dor diante do câncer que a acometeu na mais pura demonstração de humanidade e delicadeza. Lendo seu blog, muitas vezes me emocionei e chorei com a força de tanta sinceridade… Não sei, mas imagino que tenha sido muito difícil todo esse momento e que continua a ser, mas a força com que ela dizia: “Hoje estou me sentindo péssima, choro muito e tenho pena de mim mesma!”, me pareceu muito mais forte e real do que qualquer outro código sobre como enfrentar momentos difíceis. Nossa sociedade moderna não nos permite sofrer, por mais legítimo que seja o nosso sofrimento.
Outra pessoa que trata disso com muita sensibilidade e inteligência é a escritora americana Joan Didion, em seu “O Ano do Pensamento Mágico”. Nesse livro, ela conta como em um ano perdeu o marido e lutou desesperadamente para salvar a filha de uma doença muito rara. Essa mulher, uma das intelectuais americanas mais respeitadas da atualidade, fala sobre como é praticamente impossível sofrer em nossa sociedade. Afinal, passado um mês da morte do marido de uma vida inteira, já seria hora de ela reagir e retomar a vida normal. Mas que vida normal? Quando tudo muda de uma hora para outra, e nos encontramos completamente despreparados para superar ou entender o que está acontecendo, é que nos damos conta do quanto nossa sociedade não está pronta para lidar com a dor e o luto.
Por isso, quero deixar aqui a minha admiração por essas duas mulheres especiais. E vamos nessa, pessoal! Vamos sofrer com honestidade quando for inevitável, vamos chorar e vamos ser inadequados se não houver outra alternativa. Afinal, nossas dores são legítimas e merecem atenção. Me sinto muito mais próxima de pessoas que são humanas, que sofrem, que suam e que têm dúvidas sobre o que fazer de suas vidas. Isso porque busco a verdade e sei que ela nem sempre é agradável, porém mais rica e poderosa. Fica aqui o meu agradecimento a quem consegue transformar suas dores e mostrá-las com honestidade, a ponto de convertê-las na mais pura expressão de força e coragem. O meu mais sincero obrigada.
Por Miss Ferraz
Amsterdã:roteiro mãe e filha
Estive em Amsterdã recentemente com minha filha para uma semana juntas, só eu e ela! Foi uma delícia! A cidade é uma graça, cheia de museus interessantes, lojas diferentes, restaurantes deliciosos e uma onda ...boa que te invade assim que e chega no lugar.
O comércio local é ótimo e cheio de coisas bonitas e de marcas desconhecidas. Adoro! Ficamos lá por cinco dias sem fazer nada… Entrávamos em livrarias, íamos à cafés e andávamos de bicicleta o tempo todo, claro! Andar de bicicleta completa a experiência de estar em Amsterdã. Primeiro a aventura de alugá-las, procurar a melhor loja, depois encontrar alguém que ajuste a sua bike à você, pois os holandeses são muito grandes! As mulheres são enormes os bebês rechonchudos e os homens grandes e fortes, não são bonitos, na minha modesta opinião, mas transbordam saúde, força e simpatia.
Eles são muito gentis e amáveis, gostam de explicar para “nós turistas” porque a cidade tem formato de aranha na sua parte mais antiga. São vários canais que permeiam a cidade e dão o charme especial ao lugar. A cidade foi crescendo em torno desses canais que formam um verdadeiro labirinto se você esta de barco.
Recomendo fortemente esse passeio para os que estão visitando, especialmente se rola um clima de romance… Fiz com minha filha um jantar num desses barcos antigos de madeira, típicos dos canais. Tínhamos uma cabine pequena na proa, com uma mesa lindamente posta para nós duas, bem diante das janelas e iluminadas por velas pequenas e discretas. O capitão nos acompanhava logo de perto, dirigindo o barco com seu timão antigo de uma madeira castanha de uma cor linda! O barco era todo dessa cor e branco. Ao fundo havia uma mesa maior para seis pessoas e na popa uma varanda com dois banquinhos para sair, fumar um charuto ou simplesmente apreciar a vista e o pôr-do-sol.
Amsterdã é assim: discreta, pequena e sutil. Cheia de pequenos prazeres e coisas gostosas para fazer. Nós batíamos perna o dia todo e comíamos. Não vão encontrar nada incrível em termos de gastronomia, mas os restaurantes são todos simpáticos e agradáveis, de onde certamente você sairá tendo feito uma boa refeição!
Passeie muito pelas ruas e se perca nelas, sempre vai encontrar um antiquário simpático ou um sebo de livros interessantes. Como eles tem livrarias! Vá ao museu do Van Gogh e se sinta feliz por estar vendo telas tão lindas. Imagino que a cidade deva ser ainda muito mais agradável no verão. Definitivamente voltaria com prazer à essa cidade. Fiz poucas coisas, pois o objetivo da viagem era curtir a companhia da minha filha e colocar o papo em dia, apenas nós duas, mas vou dividir com vocês um pouquinho da viagem.
Por Miss Ferraz
Serenidade, maturidade , fama e outras coisas mais
Outro dia ouvi um amigo dizer: “A Carolina está serena”. Fiquei quieta, prestei atenção. Não faz muito tempo, numa roda de amigos em Nova York, novamente ouvi isso: serena… Uma amiga se in...dispôs, e com toda a razão, com uma convidada numa festa, dizendo: “Não me contive, e assim ainda reservamos a Carolina”. Que piada! Transformaram minha intolerância por indivíduos folgados em bordão (hehehe).
Eu me lembro de outra Carolina, a que morava em São Paulo, era casada com Mario (Cohen), mãe de Valentina, começando uma profissão, essa sempre foi serena. Então, veio a fama e tudo mudou. Como a fama é pernóstica e nociva! Ela destrói, corrompe, é maléfica. Sucesso e prestígio são coisas boas. Acredito que trabalhei toda a minha vida por essa razão.
Mas meus primeiros anos no Rio, a fama maluca, a invasão desesperadora da intimidade e tudo o que veio daí foi muito violento. Hoje, vejo o quanto tudo me fez mal… Por sorte percebi e fiz um trabalho homérico para reencontrar a Carolina serena, agora na versão mais velha, 20 anos depois.
Estou feliz, consegui escutar um elogio que me tocou muito mais do que imaginam, afinal, foram anos de semeadura e sinto que talvez os primeiros frutos apareçam e, tomara, pois foram anos de trabalho em que plantei, arei a terra, cuidei das sementes e, principalmente, esperei com fé.
Quantos diálogos não foram travados entre meus pensamentos e essa terra bruta e revirada que recebia em si minhas esperançosas sementinhas. Eu sinto um aroma de esperança chegando, de coisas boas – e não é só pra mim, não -, sinto que coisas incríveis estão por vir para nós todos. Isso é o que sente e deseja a Carolina serena, versão 2009.
Transcendência, felicidade , desabafo
Apesar de muitas vezes termos a sensação de estar vivendo o melhor tempo de nossa vida (quantas vezes the best time of my life não passou por mim? ), o meu único conselho é: think twice.
Quantas vezes... jogamos fora claras e nítidas oportunidades de transcendência e felicidade? Cada vez mais nos voltamos para um mundo de aparências, em que o que você aparenta ser não necessariamente corresponde ao que você é, porém o que você aparenta ser pode ser mais uma coisa agressiva e ostentatória. Se pudesse escolher, eu diria que prefiro as pessoas invisíveis.
Será que sou louca? Mas fato é que acredito na delicadeza do que se sente, não suporto mais a convivência com as imposições de códigos já tão velhos e sem o menor significado para mim. Sei que o mundo é feito por meio de códigos e que tudo faz parte de um quebra-cabeça maior, mas não quero construir nada que não seja coerente com as poucas coisas que importam para mim. Será que sou louca? Não sei, às vezes penso que vocês todos são loucos.
Quem sabe nós todos sejamos loucos? Mas não desisto de buscar uma saída. Quero encontrar um jeito de me comunicar com o mundo por meio da suavidade, da invisibilidade, chegar ao ponto de não incomodar, mas não ser incomodada.
Não quero mais cuidar do que não me pertence, não quero mais administrar a loucura que não é minha, não quero mais respirar de manhã cedo me preparando para sair protegida para que os loucos do mundo não me ataquem, para que a falta de cuidado e agressividade que impera nas relações humanas de hoje não faça mais uma vítima, pois eu preciso voltar para casa, preciso voltar para minha filha e minha família.
Mas há alguns dias, como hoje, por exemplo, em que nem mais consigo perder a cabeça, sou acometida por um cansaço profundo; então me lembro daquela sensação de perder a cabeça, a falta de controle, a ansiedade, havia um certo glamour naquilo tudo. Hoje, sinto que abri mão disso, tenho os meus amigos, o meu trabalho e, ainda assim, quando sou surpreendida, sou surpreendida com o que há de pior no outro. Eu tenho uma máxima, digo que a droga é que as pessoas são exatamente o que aparentam ser, elas nunca nos surpreendem.
Digo isso com o coração decepcionado, pois, hoje, vejo que o tempo passa. Vejo que a nova escala de valores entre as relações se tornou pra mim uma incógnita. Olho à minha volta, falo com meus amigos e sinto: todos saem de casa para enfrentar seus dias vestidos com a capa de proteção contra a loucura do outro.
So please, think twice.
Por Carolina Ferraz
Tempos Modernos
Estava outro dia lendo uma das revistas mais bacanas atualmente: a inglesa Grazia. E vi um artigo escrito por uma menina de 28 anos, que trabalha no mercado financeiro, mora em Londres e namora há três anos e meio um cara ...que, diz, é o cara. Ela fala que morar como parceiro antes não é o ideal pois, conforme pesquisas, nove entre 12 casais que vivem juntos antes têm tendência maior a se divorciar.
Essa mulher ganha dinheiro, namora o cara que gosta e diz que não mora com o namorado porque a relação pode não acabar em casamento.
Ela argumenta na maior calma que, se ele for o cara, “a gente vai se casar, não é mesmo?”. Casamento, segundo ela, tem de ser uma coisa conquistada, uma etapa que coloca as duas pessoas envolvidas numa posição “realmente diferente”.
Eu acredito nisso, mas se o cara for realmente o cara, será que faz alguma diferença a ordem dos fatores? Acho interessante hoje encontrar um artigo desses. Afinal, o que é certo? Esperar até que o seu príncipe encantado se ajoelhe e lhe proponha casamento ou partir para a experiência cotidiana e, quem sabe, você mesma não queira mais casar com ele.
Emancipadas ou independentes, comprando todas as bolsas e sapatos que sonham, no fundo, o que todas querem ainda é um homem dentro de casa?
Eu me lembro que quando começou o Sex and the City, fiquei encantada. Lá pelo terceiro ou quarto ano, foi me dando um bode… Deus do céu, aquelas quatro mulheres, lindas, inteligentes, poderosas, não faziam nada, além de falar de homem?
Eu me sentia incomodada.
Fico imaginando uma pessoa como eu, que sobe, desce, trabalha, tem filho, ser retratada daquela maneira. Aquilo me irritou muito, como se a liberação da mulher fosse medida pela quantidade de parceiros que ela consegue ter ao longo da vida e não pela capacidade de escolher o que considera melhor para si. Mas é um fenômeno interessante.
Com exceção das francesas, as europeias de um modo geral são bem voltadas para o casamento. E no Brasil? O que nós queremos? Eu, como mãe, quero que minha filha cresça, saiba de tudo, tenha acesso a informações e que possa escolher a melhor maneira de usá-las. Vejo muitas amigas divorciadas que estão às vezes começando uma nova relação, reclamando dos possíveis futuros namorados, mas, na verdade, educam seus filhos homens para serem tão cheios de defeitos quanto os respectivos futuros possíveis namorados. Será que existe fórmula? Será que existe um caminho mais curto para a felicidade?
É evidente que a vida a dois é sempre mais interessante do que uma solitária,
mas será que é só por meio do casamento, em pleno século 21, que isso é possível? Este é o mês do meu aniversário, faço 40 anos no dia 25 e gostaria de desejar a mim e a todas nós um ano cheio de encontros e desencontros, com muitas opções e escolhas, de aventuras e muito trabalho; que essa nova mulher
se preocupe mais em ser uma boa mulher, de maneira mais ampla, no trabalho, com a família, o parceiro, independente de qualquer rótulo. Acredito que o mais importante é a qualidade e o amor que colocamos em cada relação.
Não quero fazer apologia a nada, sou um espírito livre, acho que cada um tem um caminho individual a ser percorrido e seria incrível se a gente se espelhasse menos, usasse menos fórmulas, lesse menos pesquisas, acreditasse menos em estudos e seguisse mais a nossa intuição. Parabéns pra nós!
Destino:Cartagena
Cartagena foi um destino “surpresa”. Não tinha imaginado como seria visitar a Colômbia, mas devo dizer que adorei! A cidade é linda e muito romântica. Vale visitar sem falta! E, aproveitando que se está na Colômbia, vale... um tour geral para conhecer outras cidades.
Dos lugares que visitei, Cartagena foi de longe o mais bonito e pitoresco. Come-se muito bem nos seus restaurantes charmosos e simpáticos. Peixes frescos e protos colombianos também.
A cidade é muito pacata, mas mesmo assim, escutei boa música e visitei lugares animados. Pra quem quer conhecer o litoral, sugiro alugar um barco e curtir as ilhas e praias da costa, com lugares lindos e água cristalina.
Não deixe de ir aos restaurantes, Vitrola, San Pedro e Don Juan. Os melhores da cidade! O Café del Mar pede uma visita para apreciar o pôr do sol,. Muito simpático e descontraído, cheio de drinks ótimos, o lugar é perfeito para começar a noite.
Faz muito calor, portanto não se preocupe com a mala. Quanto menos roupa, melhor! E esqueça o salto alto. Leve um bom tênis de andar, o mais confortável possível.
Fiquei hospedada no Hotel Sofitel Santa Clara, uma espécie de Copacabana Palace local. Muito charmoso e agradável.
Pra quem não sabe, Cartagena é a cidade de arquitetura colonial mais antiga das américas. Cheia de prédios lindos, com aquela arquitetura simples e linda que tanto gosto. Acho que vocês vão gostar também. Aqui vão algumas dicas de restaurantes que gostei em particular, pra quem se animar, boa viagem!
Candé www.restaurantecande.com Calle estanco del Tabaco Tel: (57 5) 6685219
San Pedro Centro Histórico Plaza de San Pedro Clave Tel: (57 5) 6645121 / 6641688
Don Juan Centro Histórico Calle del Colegio Tel: (57 5) 6643857
Café del Mar www.cafedelmarcartagena.com Baluarte Santo Domingo, Centro Histórico Tel: (57 5) 6646513
Babar www.babarcartagena.com Centro Histórico Calle San Juan de Dios (esquina) Tel: (57 5) 6642040
La Vitrola Centro Histórico Calle Baloco (esquina) Tel: (57 5) 6600711 / 6648243
Por Miss Ferraz
Maternidade,independência,escolhas ...
Sempre achei que teria muitos filhos, como minha mãe e minha avó, mas a vida tem seus caminhos e acabei tendo uma só. Minha filha sempre me cobrou irmãos, mas acabei me separando e não me casei mais de...sde então. Com as mulheres cada vez mais independentes financeiramente, o número de produções independentes – mulheres que não encontraram companheiros ou preferiram se casar com suas carreiras e acabaram optando por ter seus filhos sozinhas - aumentou muito.
O que mudou efetivamente? Como isso vai afetar a vida dessas crianças e da nossa sociedade como um todo? Na Idade da Pedra, as mulheres não sabiam quem era o pai de seus filhos, pois viviam em grupos e se relacionavam com todos os homens adultos daquele grupo. Os filhos eram filhos do grupo. Isso hoje seria uma aberração moral, mas era natural.
Hoje, por exemplo, temos o caso recente da ex-ministra da Justiça da França, Rachida Dati, que teve seu filho, nunca revelou o pai e cinco dias depois do parto retornou ao trabalho. Aumenta também o número de mulheres que não quer ter filhos e se diz incomodada com a cobrança da sociedade, como Cameron Diaz e Sandra Bullock, por exemplo, que diziam não querer filhos; Sandra já mudou de ideia e as duas estão muito bem, obrigada, afinal, nem toda mulher os quer.
Quantas mudanças! Falando por mim, gostaria, sim, de ter tido mais filhos. Não entendo uma mulher que se diz feliz sem filhos, mas elas existem e são verdadeiras nos seus sentimentos, eu mesma conheço várias. Conheço também várias que gostariam de ter tido e acabaram não tendo… Felizmente, eu tive minha filha. Sou daquelas que jamais seria feliz sem filhos. A maternidade me fez melhor em todos os sentidos! Quando a tive, não foi só para construir uma família, mas, principalmente, para aprender a amar incondicionalmente.
Vejo os problemas e defeitos de minha filha, mas a cada dia descubro um cantinho novo escondido para amar mais e mais. Cada mulher vive e se descobre de uma maneira pessoal e acredito (graças a Deus) que a sociedade, seja qual for a sua escolha individual, está cada vez mais preparada para aceitar as diversas escolhas à nossa disposição hoje em dia. Que incrível a capacidade de adaptação do ser humano e, para todas aquelas mulheres que se animarem, com parceiros ou não, boa sorte e muito amor na sua jornada!
Por Miss Ferraz
Do tempo : Três Dias Fora
Marrakesh: Anotações de Viajem
Estive em Marrakesh por alguns dias na companhia da minha filha Valentina. Nos hospedamos na casa de uma grande amiga e fizemos alguns passeios incríveis!
Fomos recebidas com um café da manhã muito agradáv...el servido em uma mesa especial e muito colorida, como tudo por lá, aliás.
Fizemos uma visita à Dar Cherifa, uma escola de culinária que me encantou. Ir ao Jardin Majorelle, Memorial de Yves Saint Laurent também foi especial. Lá conhecemos algumas de suas peculiaridades, em um ambiente agradável e colorido – claro!
Ao andar pelo mercado os produtos locais chamam a atenção. Encontramos uma enorme variedade de temperos.
A Maison du Kaftan é uma loja incrível! Eles vendem kaftans e jellabahs para turistas e moradores também. A variedade é enorme e é possível encontrar peças em todas as cores. A loja fica no endereço 65 rue Sidi El Yamani, Mouassine e vale a visita!
Na última noite, tivemos um jantar maravilhoso no Dar Comptoir, propriedade do simpático Marcel. Comi um delicioso frango indiano ao curry e a Valentina pediu um cuscuz marroquinho com legumes. Recomendo o vinho rosé local. O restaurante fica na Avenue Echouada, Hivernage.
As fotos foram feitas por mim e pela Valentina no celular mesmo. Mas acho que deu para transmitir um pouquinho de nossa visita. É uma viagem que recomendo!
Por Carolina Ferraz
Por Acaso
Surpresas na vida acontecem e são sempre bemvindas. Ainda outro dia
estava voltando de viagem e, como uma daquelas coisas do acaso, ao
meu lado se sentou uma senhora muito elegante, bonita, toda cheia de
energia. E, como se não bastasse, era a simpatia em pessoa. Pois,
sentadas lado a lado, sem nunca termos nos visto, travamos um bate-
papo dos mais interessantes. Confesso que fiquei apaixonada pela
senhora em questão. Além de linda e simpática, muito bem resolvida,
contou-me a sua vida toda. O que, evidentemente, foi pago na mesma
moeda. A pobrezinha saiu de lá também sabendo bastante sobre mim.
Essa senhora, aos 68 anos de idade, após um feliz casamento sem filhos,
convive com seus quatro enteados e administra um dos mais bem-
sucedidos e sérios campos de férias do país. E como a vida é cheia de
sutilezas… O fato de não ter tido filhos poderia ter feito com que ela
tomasse uma série de atitudes. Mas ela optou por dedicar os últimos 30
anos da sua vida a cuidar dos nossos filhos. A minha, inclusive, já passou
férias lá. E não bastasse essa atividade intensa, ainda foi estudar
psicologia.
Ela é das mais animadas, trocamos informações sobre moda,
relacionamentos, dicas típicas de dona de casa – como onde consertar
sapatos na cidade – e tomamos uns três copos de vinho cada uma. Contei
a ela sobre os textos que escrevo, sobre experiências recentes de vida e,
evidentemente, trocamos e-mails. Já lhe escrevi e ela já me respondeu.
Sempre muito querida. De alguma maneira me identifiquei com aquela
mulher. Gostaria de imaginar a minha vida daqui a 20, 30 anos como a
de alguém que deixou um legado. Como alguém que definitivamente
deixou suas marcas. Gostaria de ser lembrada como alguém que fez algo,
que não permitiu a vida passar em branco.
Saí desse encontro no avião, tão casual, revigorada e esperançosa.
Afinal, aos 41 anos, acredito que ainda posso trabalhar arduamente para
que os próximos 30 sejam tão incríveis e cheios de história como os dessa
senhora.
Pode parecer bobagem, mas quando me olho externamente ainda vejo
uma menina, cheia de desejos, projetos e aspirações. Gostaria que, ao
longo de minha vida, muitas coisas acontecessem, muitas surpresas me
possuíssem e muitas portas cheias de novidades se abrissem. Sinto que
só agora consegui me posicionar diante das experiências passadas e
expectativas futuras como alguém presente e determinada no que
realmente importa na vida: sonhar. Sonhar sempre, de todas as
maneiras, sozinha ou acompanhada. Sonhar torna todas as coisas mais
fáceis, mais palatáveis e faz com que muitas vezes a administração da
realidade seja algo menos árduo e inóspito. Gostaria de me imaginar aos
70, uma velhinha linda, elegante e chiquérrima, muito articulada, cheia
de projetos, muito responsável e, assim como essa senhora, cheia de
histórias para contar. Com uma vida rica, cheia de escolhas e, sem
sombra de dúvidas, com um legado atrás de mim. E que, de alguma
forma, ao fim de toda essa estrada, eu consiga em um voo ocasional,
desavisadamente, me tornar inspiração para uma jovem mulher, quem
sabe sentada ao meu lado.
Por Miss Ferraz
COMER,COZINHAR,VIVER
Passei três semanas em Nova York, fazendo um curso de culinária no NY
Culinary Institute. O curso, apesar de incrível, preferi abandonar, pois estava
muito acima das minhas habilidades.
Não sou chef, e, sim, uma pessoa que gosta de cozinhar e que, digamos, se
sente bem entre panelas e caçarolas, mas as minhas ambições são limitadas.
No entanto, circular por aquele ambiente foi uma experiência e tanto. Coisas
simples, como o tempo de cozimento de cada alimento, o que se fazer para
preservar seus nutrientes, o que é carboidrato simples ou composto ou as
maneiras de encontrar proteína em outras fontes de alimento que não a carne,
aprendi ao longo de um curso de gerenciamento de uma cozinha profissional.
Talvez por isso, o curso tenha sido pra mim tão difícil, pois amo loucamente
cozinhar, mas a minha ambição real é cozinhar para os amigos e pessoas
queridas. Deixo as cozinhas profissionais aos profissionais da área, afinal minha
profissão é o ofício do ator.
Percebi que a culinária está muito mais voltada para um conceito mais amplo de
saúde e bem-estar. Os chefs experimentam muito mais e acabam nos
proporcionando experiências cada vez mais ricas. Nos dias de hoje, a pesquisa e
a ciência dos alimentos está diretamente relacionada à formação de um chef.
Fora isso, vem o que não se explica, aquilo que só podemos definir como
talento, uma mágica que certas pessoas têm e isso as torna especiais. Quem
pensa que se tornar chef é uma coisa simples, engana-se redondamente.
Os pobres coitados têm de estudar loucamente, entender de estrutura dos
alimentos, composição dos nutrientes, à química provocada pela interferência de
um alimento sobre o outro, ou seja, é necessário que a cultura sobre a área seja
muito mais vasta e profunda do que se pode imaginar superficialmente. Em
função disso, confesso, cheia de euforia, que cada vez que experimento um
prato saboroso sinto uma vontade de agradecer profundamente a essa pessoa,
que conseguiu juntar alimentos e transformá-los em uma coisa tão inesquecível
e saborosa.
O meu respeito, que antes já era grande, agora ficou enorme. O meu
agradecimento sincero a todos os chefs estudados ou autodidatas pelas
maravilhosas fantasias e inspirações que trazem até minha boca, algumas tão
inesquecíveis que gostaria de conservá-las e mostrá-las a minha filha, aos meus
amigos, porque os grandes prazeres da vida, afinal, são sempre melhores se
compartilhados e a cozinha é o maior tributo à confraternizacão.
Vocês todos são minha nova religião.
...POR CAROLINA FERRAZ
MOMENTO CERTO
Sensibilidade e interesse pelo outro é também uma questão de timing.
Esse mês quero falar de timing. Aquela coisa que acontece como uma
conspiração universal qualquer que nos coloca no lugar certo, com a pessoa
certa, no momento certo, e faz com que aquilo que você tanto desejava
acontecesse.
Timing é também a sua relação com o outro, é aquele momento às vezes fácil,
às vezes difícil, de conseguir estar lá presente. Conseguir ter a sensibilidade e
transformar percepções que surgem em exatos momentos e que podem
efetivamente transformar uma vida.
Gostaria de pensar que sou alguém que tem um bom timing, mas, na verdade,
isso é wishful thinking. Meu desejo profundo é que realmente eu tenha um bom
timing, coisa que me desperte curiosidade e atenção.
Todo tempo olho em minha volta, observo as pessoas e penso: é este o
momento certo? Não sou escrava disso, que fique claro. Mas é inevitável que em
determinadas ocasiões, em uma festa, quando estou ali sentada, naquela
cadeira, no canto da sala, começo um papo, encontro alguém, descubro alguma
coisa.
Sempre me sinto encantada, como se tivesse descoberto algo único e o timing
certo de conhecer alguém novo ou aprender uma coisa diferente ou
simplesmente relaxar de verdade, na hora, no local e no instante certo. Isso
tudo para mim é timing.
Timing de olhar as coisas e a vida e perceber que realmente esse é o tipo de
“adjetivo” que, com a mais profunda modéstia, gostaria de recomendar aqui, a
nós todos. Acho que andamos todos carentes de um pouquinho de mais
sensibilidade e atenção, interesse mesmo pelo outro e pelas coisas que
acontecem a nossa volta.
Só assim, e de peito aberto, seremos capazes de ampliar nossa sensibilidade
para perceber melhor o timing das coisas e das relações humanas, e quem sabe,
talvez, tirar melhor proveito da experiência de estarmos aqui, vivendo, dia a dia,
a vida maluca de cada um de nós.
Assalto
Fui assaltada da maneira mais idiota e cretina possível. Acabei de trocar de
carro e estava andando por aí, curtindo dirigir um carro que não era blindado. Já
fui assaltada em São Paulo quatro vezes, no Rio, uma, sempre no trânsito. Após
ter feito compras pra casa, enquanto andava em direção ao carro, fui rendida por
um sujeito nervoso e fora de controle, que segurava uma gilete contra o meu
pescoço. Honestamente, não sei se meu medo maior foi da gilete ou a
percepção do quão descontrolado estava o bandido, de uns 18 anos. A 20
metros, por acaso, havia um caixa eletrônico. Ele me leva até lá e pede que eu
saque o dinheiro. Não sei como consegui me lembrar das senhas dos cartões,
sou excelente para decorar texto de novela, fora isso, não sei decorar uma única
senha. Não sei como, nessa hora uma luz surgiu e eu consegui me lembrar.
Eu sei que tudo podeira ter sido muito pior, mas é um absurdo me ver
agradecendo por ter sido vítima de ma desgraça pequena. O sujeito insistia que
eu devia ter mais cartões e como não tinha, não satisfeito, me deu um soco. Até
nem doeu tanto, o que doeu foi a minha alma, meu coração ficou inchado e
dolorido, minha vergonha e humilhação foram tamanhas que fiquei ali no canto -
nem mesmo chorar eu consegui. Ele, nervoso, foi embora e eu nem vi. Daí um
tempo, veio uma senhora que me socorreu. Ela me reconheceu, e então
realmente me dei conta do que acontecera, peguei minha bolsa e as sacolas de
compras no chão, agradeci a gentil senhora que me acompanhou até meu carro,
me recompus um pouco, catei o resto da dignidade que havia em mim e
consegui dirigir até minha casa. Mas a minha revolta é tamanha, é tão imensa,
que só consigo sentir um ódio de ser sujeitada a esse tipo de situação, cada vez
mais comum na vida de todos nós brasileiros.
Sou uma mulher que trabalha, sou honesta, crio uma filha, tenho amigos, pago
meus impostos, tenho uma relação justa como cidadã na cidade em que vivo.
Mas você pode estar andando na rua e um sujeito drogado te ameaça, te diz
coisas ofensivas e humilhantes, rouba o seu dinheiro, te bate e você ainda dá
graças a Deus porque o pior não aconteceu?! Que mundo é esse, afinal?!
Eu sei que a violência faz parte da vida de todas as grandes cidades, mas no Rio
extrapolou todos os limites do razoável. É uma cidade comprimida entre o mar e
a violência.
Honestamente não entendo como pode ser o metro quadrado mais caro do Brasil
e posso dizer isso porque vivo aqui e sou apaixonada pela cidade, mas tenho
certeza que não sou a primeira nem a última a experimentar esse tipo de
violência.
Quero poder caminhar nas ruas sem ter medo, quero poder dirigir meu carro
aproveitando toda sua potência, impossível com um blindado. E afinal, por que
tenho que blindar meu carro? A minha bandeira é a favor da liberdade dos
cidadãos. Gostaria de morar num país aonde todos se sentissem mais seguros,
mais livres. Queria não ter que agradecer por ter sido vítima de uma agressão
ainda pior. Aquele homem poderia perfeitamente ter me matado, ele estava
visivelmente fora de si. Por que cara vez mais esse tipo de situação acontece a
todos nós e cada vez menos há uma reação concreta? Voltei para casa, não
contei nada pra ninguém, fiquei quieta, calada, não queria que minha filha
soubesse, não queria que ela soubesse que eu apanhei as 3 da tarde, numa rua
qualquer do Leblon.
TEXTO PUBLICADO NA REVISTA JOYCE PASCOWITCH
Num mundo onde escolher ser imperfeito é quase uma opção política, ( ou de falta de recursos mesmo ), fica gozado dizer que tenho sim quase 7 graus de miopia e vou muito bem obrigada. Não estou falando de uma questão só estética, como fazer lipo ou colocar silicone, isso cada um faz como preferir… No meu caso eu não vejo mesmo!! Sou “deficiente visual”, como brinca uma amiga minha. Muitas vezes não reconheço as pessoas, me confundo com os objetos, sou incapaz de dirigir sem óculos. Nunca me pergunte sobre a paisagem se estiver sem óculos, pois não sei diferenciar urubu de meu loro literalmente…, sou capaz de passar ao lado da minha mãe e não reconhece-la e, pra piorar, como já sei que não “vejo” mesmo, já não olho mais pros lados, fico no aguardo dos amigos queridos que me acenam e gentilmente me auxiliam no convívio social.
Aí as coisas começam a ficar engraçadas, ( pra mim ao menos, afinal alguém tem que se divertir ), pois corrijo esse probleminha, usando óculos o tempo todo sem parar, só uso lentes de contato quando é imprescindível ou quando vou a uma festa, ( antigamente eu ia à festas sem elas, era uma verdadeira tortura! ), pois chega de me chamarem deantipática, tenho apenas uma miopia avançada pessoal, basta dizer “Oi Carolina, sou eu” e pronto, está tudo resolvido!! Todos os fãs me pedem pra tirar os óculos e várias vezes sugerem com carinho: “por que você não se opera?? Olha eu tenho um parente…” e aí vai, são inúmeras as situações em que me vejo na berlinda. Mas a questão é que gosto dos meus óculos e não me imagino sem eles, afinal comecei a usa-los tinha 11 anos e já estreei com absurdos 3 graus e de lá pra cá só fez aumentar. Às vezes fico pensando como deve ter sido minha vida até essa idade, como era o mundo que eu via através da minha já avançada “deficiência”?
Fato é que aprendi a ver da minha maneira, ( se isso è possível? ), e me abraço a isso como a um amigo antigo, que me conhece bem e me lembra sempre das minhas limitações e me ajuda a seguir com calma. Num mundo onde ser um pouco “gordinho”, não ter dentes perfeitos, não ser eternamente jovem são sintomas de algo a se esconder, como uma doença ou um daqueles problemas de família constrangedores que só os mais íntimos podem saber. Tenho certeza que cada um de nós sabe dos seus “defeitinhos” e talvez goste mais ou menos de cada um deles, mas fato é que eles constroem nossa personalidade mais até do que nossas qualidades. Por exemplo, sou daquelas atrizes que nunca tropeça ou cai num blackout, recurso muito usado no Teatro. Tenho uma ótima consciência espacial!! É engraçado…”o espaço que meu corpo ocupa", parece aula de física, he,he!
Outro dia fiz uma massagem maravilhosa com um massagista cego. O homem tinha mãos incríveis e foi um dos melhores shiatsu da minha vida. Acho sinceramente que ele era tão especial porque ao não ver acabou desenvolvendo outros sentidos de forma única. Fico tentando imaginar quais seriam as minhas outras habilidades, pois seguramente com 7 graus de miopia alguma coisa especial há de haver, né? E confesso, com toda humildade, se os olhos são a janela da alma, minha alma precisa de proteção. Meus óculos são como persianas que me protegem, às vezes o sol está muito forte lá fora, outras preciso sair com meus queridos olhos fechados, outras quero simplesmente descansar e não ver o que me cerca, já outras quero me esforçar e dar tudo de mim e ser capaz de reconhecer os mais próximos pela linguagem corporal à distância, saber que o embaçadinho do Pedro é diferente do embaçadinho da Carla e dedicar atenção a descobrir como cada um é mesmo, para além do que se vê… No embaçadinho dos meus olhos. Talvez por tudo isso eu prefira seguir com meus óculos protetores da minha alma.
Diario de viajem
Por Miss Ferraz
Aprendi Com o Meu Pai
Com11 anos, meu lugar preferido no sobrado em que morávamos era a caixa-d"água. Pegava o radinho de pilha, um gibi ou livro, ia para a varanda do segundo andar, pulava para o telhado e escalava até quase o topo, onde ficava um patamar com a caixad"água. Passava horas ali, lendo, ouvindo música, fazendo nada, curtindo as tardes de Goiania. Era o que mais gostava de fazer. Um dia, perto do anoitecer, houve um apagão, e acabou a luz de toda a cidade. Aconchegada em meu observatório, ouvi minha mãe pedir a meu pai: "Ladislau, já vai escurecer, e a Carolina está de novo lá em cima. Pode ir resgatar a menina da caixa-d"água?". Meu pai escalou o telhado, sentou-se a meu lado e, em vez de me pedir para descer, engatou uma conversa. Ficamos quase duas horas ali. Dois companheiros desfrutando a companhia um do outro, papeando, vendo o pôr do sol na planície, a variação de luminosidade nas ondulações da paisagem, a cidade ficando às escuras. De repente, já de noite a energia voltou, aos poucos. As luzes das casas foram acendendo, começando pelos bairros a nossa esquerda, seguindo para a direita, passando por nós, até chegar à outra ponta da cidade. Foi uma cena bonita. Quando Goiânia ficou toda iluminada, meu pai fez um comentário: "Que engraçado. E o mesmo lugar, a mesma cidade, mas parecia uma coisa no escuro e, agora, com a luz, parece outra coisa, muito diferente. Tudo na vida é mesmo uma questão de ponto de vista". Na hora, não entendi o que ele queria dizer, mas também não perguntei. Só gravei na memória. Anos depois, já adulta, me vi diante de uma daquelas situações em que os dois lados acham que estão certos e, assim, ambos acusam o outro de estar errado. Na mesma hora, me vi sentada na caixa-d"água com meu pai. Lembrei a frase, dei risada. A ficha caiu, iluminada como uma cidade depois do apagão.
Roberto Carlos Em Minha Vida